Desta vez escolhi o isolamento. Não total, mas parcial. Quando desacompanhado, posso observar sem vícios, agir sem julgamentos e capturar as verdadeiras relações.
Viajar sozinho é revelador. Cada pessoa, cada experiência e cada lugar é igualmente passageiro em sua jornada. Desta maneira, carrego tudo o que compartilho. Com eles, com tudo.
A vida é mesmo, metaforicamente, como um trem. Em movimento, passamos por cidades, túneis escuros, paisagens encantadoras e, às vezes, o que vemos pela janela é nosso próprio reflexo.
Não há foto ou vídeo que retrate a sensação vivida em cada momento. O que mais chegará perto disso será a nostálgica memória.
Dirijo-me agora a Berlin. Após uma agradável noite em Frankfurt. Ah, Frankfurt! Sua doce e amigável noite me surpreendeu tanto.
Um dia ainda peço ajuda à ciência. Para que provem o poder massivo que resulta da concentração de pessoas com boas energias e sorrindo. É contagiante.
A cada minuto que entro no meu isolamento, tenho a sensação de estar soltando de mim cargas internas. Talvez medo, padrões ou certezas.
A cada pessoa que vejo passar pela janela, percebo que ela também tem uma vida repleta de histórias, como eu. E isso já deveria ser suficiente para dar a ela o máximo de respeito e amor.
Como é grande o mundo! Que saudade eu tinha de sentir essa pequena importância.
Obrigado à sempre linda Alemanha. Por me receber, encantar e ensinar.
(Marcelo Penteado)
2 respostas para “Sob Trilhos”
“A vida é mesmo, metaforicamente, como um trem.” Uma contundente verdade encarcerada nessas palavras. Tanta profundidade em meio a muita simplicidade. O encanto está na simplicidade. Sempre que leio sua arte, lembro-me de outras… tão cristalinas e reflexivas… arte, apenas.
A Viagem
Quem é alguém que caminha
Toda a manhã com tristeza
Dentro de minhas roupas, perdido
Além do sonho e da rua?
Das roupas que vão crescendo
Como se levassem nos bolsos
Doces geografias, pensamentos
De além do sonho e da rua?
Alguém a cada momento
Vem morrer no longe horizonte
Do meu quarto, onde esse alguém
É vento, barco, continente.
Alguém me diz toda a noite
Coisas em voz que não ouço.
– Falemos na viagem, eu lembro.
Alguém me fala na viagem.
In “O engenheiro”, 1945.
João Cabral de Mello Neto
Márcia Moraes
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Aaaaahhhh, você conheceu a Alemanha! Meu segundo lar …
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