sigoescrevendo

Um manifesto de palavras sob a regência de cada momento.


20 de Junho


Rio de Janeiro, 2013

Me chamaram pra rua e eu fui. Manifestei minha curiosidade em simplesmente presenciar um movimento urbano com vida própria.

Mergulhei entre diferentes grupos de pessoas, famílias e desconhecidos, que tinham suas próprias motivações para estar ali.

Testemunhei, impressionado, uma massa reativa, com sentimento coletivo e inexplicável – de patriotismo, indignação e talvez até ressentimentos.

Foi realmente um episódio muito bonito.

Saí de lá, no entanto, com medo. Não das bombas ou do caos. Medo da frustração. De toda a expectativa criada em cima de mudanças, de um certo basta ou de determinado fim.

Medo dos que terceirizam a mudança. Daqueles que estavam ao meu lado apontando o dedo para tudo o que está errado. Destes mesmos que me apontam o mesmo dedo, no dia seguinte, para me xingar no trânsito ou na fila do banco.

Meu medo está no romantismo. Do “gigante que acordou”; da “revolução”; ou das nomeações das primaveras. De uma manifestação narcisista.

Não me entenda errado – minha crítica não está na ida às ruas. Está na volta. Como cada um volta após protestar, gritar e exigir mudanças? Como cada um volta ao seu dia a dia após lutar contra a corrupção?

Uma verdadeira revolução não se concebe nos decibéis de gritos guardados ou nas palavras carregadas de cartazes. Sua vitória está no respeito ao sinal de trânsito, ao pedestre, ao desconhecido na fila da lanchonete, na disciplina diária de boas práticas.

E essas ações, meu amigo, não são televisionadas.

(Marcelo Penteado)


4 respostas para “20 de Junho”

  1. Como tenho apresentado, indicado, seu blog, a uma infinidade de leitores compulsivos, como eu, eternos apreciadores de diversos “textos”, temos trocado informações acerca da impecável leveza de seu ser, enquanto vives a sua arte – os textos. Um amigo mandou que eu voltasse a esse – 20 de junho. Obedeci. Não consegui conter minha impulsividade. Precisei comentar o que lancetou minha alma leitora. Nesta parte…“Não me entenda errado – minha crítica não está na ida às ruas. Está na volta. Como cada um volta após protestar, gritar e exigir mudanças? Como cada um volta ao seu dia a dia após lutar contra a corrupção?(…) Sua vitória está (…) na disciplina diária de boas práticas.”… mereces aplausos. Essa deve ser a única reflexão a ser feita.
    Retomo as palavras deste admirável filósofo colombiano, Bernardo Toro, quando questionado acerca da importância da educação , perpassada pela escola:
    “ Ela tem a obrigação de formar jovens capazes de criar, em cooperação com os demais, uma ordem social na qual se possa viver com dignidade. A democracia caracteriza-se como o regime em que as leis e as normas são elaboradas pelas mesmas pessoas que vão obedecê-las. É o sistema mais rigoroso que existe, porque não é natural ao ser humano. As normas devem dar autonomia e liberdade aos cidadãos e, ao mesmo tempo, garantir a ordem social. Pode parecer paradoxal, mas não é. Só a ordem construída em conjunto produz liberdade.”
    Marcelo, vc e Bernardo Toro comungam idiossincrasias: “Sua vitória está(…) na disciplina diária de boas práticas.”
    Que possamos meditar acerca desta simples afirmação: “Seja a mudança que você quer ver no mundo.” Dalai Lama

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  2. É triste verificar que apesar da beleza do que aconteceu, a crença da mudança ainda está na expectativa de que a solução parte do comportamento do outro e não das nossas próprias atitudes. Seguindo na linha “revolucionista” não posso deixar de dizer… SEU TEXTO ME REPRESENTA… parabéns pelos ótimos textos.

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  3. Muito obrigada por conseguir escrever o que eu penso! há um tempo discuto o assunto entre amigos e sempre sou interpretada da maneira errada!Descobri seu blog ontem, pelo texto sobre a viagem sem volta. Estou na Índia a apenas um mes e foi delicioso ler! Parabéns !!

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