
O que é Berlim se não uma própria indefinição?
Não que me faltem palavras – ao contrário – sobrariam.
Uma cidade anfitriã à sensibilidade daqueles que são passageiros. Que flertam com o que não é definitivo.
Um local onde os porquês não se explicam, se fazem sentir.
O que é Berlim se não uma cidade além de qualquer descrição?
Sua própria história tem diferentes versadores, becos e lacunas. Quem sou eu para contá-la?
Tentar explicar Berlim é um labirinto de sabotagens.
Berlim tem a ver com sentidos. Sua beleza é mais que artística, é poética.
Se Berlim pudesse falar, talvez ficasse calada. Em seu silêncio, já o comunica suficiente.
Pois,
O que é Berlim se não a própria vida após a morte?
Uma eterna reconstrução. Berlim tem no silêncio de suas ruínas um grito de independência.
É um manifesto sombrio de luz e autorreflexão – coração e alma da própria história.
Talvez, entre idas e vindas, a alma de Berlim acostumou-se a ser livre e, entre poucos momentos, eu pude tocá-la.
(Marcelo Penteado)
Uma resposta para “Berlim”
Leio seu texto. Berlim. A que lembranças esse texto remete? Algumas. Lembrança é sempre “rotulada”: boa ou doída. Sua percepção desta cidade é uma poesia. Seu texto é leve. Faz com que tenhamos vontade de estar em Berlim. Viver Berlim. Vc deve ter se deparado com incríveis grafites: “Berlim tem a ver com sentidos. Sua beleza é mais que artística, é poética.” Mas, como todos os tempos, momentos, não são só de flores, lá está o Vinícius de Moraes a falar de uma Berlim que só conhecemos pela História:
A Berlim
Vós os vereis surgir da aurora mansa
Firmes na marcha e uníssonos no brado
Os heróicos demônios da vingança
Que vos perseguem desde Stalingrado.
As mãos queimadas do fuzil candente
As vestes podres de granizo e lama
Vós os vereis surgir subitamente
Aos heróicos prosélitos do Drama.
De início mancha tateante e informe
Crescendo às sombras da manhã exangue
Logo o vereis se erguer, o Russo enorme
Sob um sol rubro como um punho em sangue.
E ao seu avanço há de ruir a Porta
De Brandemburgo, e hão de calar os cães
E então hás de escutar, Cidade Morta
O silêncio das vozes alemãs.
Rio de Janeiro, 03.02.1945
Marcelo, mais um texto. Mais uma “poesia”. Mais um encantamento por palavras bem pontuadas. És autor pronto, como Vinícius.
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