sigoescrevendo

Um manifesto de palavras sob a regência de cada momento.


Enquanto todos passavam


2013-09-26 12.30.05

Peguei o metro que nunca pego, saltei na estação que nunca salto, e caminhei como nunca – calmo. Sem pressa, parei.

O vento, como um filho bastardo de um inverno qualquer, me convenceu a tomar um café. Sozinho, e, no meio do caminho, eu parei.

Sentei-me como forma de declínio. Alterei meus próprios planos sem aviso prévio e cessei minha trajetória. Refutei, me opus, resignei. Repentinamente, saí da rota. Alguns olhares até me reprovaram enquanto seguiam.

Foi quando parei enquanto todos passavam. De fora, vi a pressa no pisar de cada passo impaciente. De longe, uma ansiedade urgente em olhares que, se por segundos me encaravam, logo tornavam a mirar além. E iam.

Antes a lentidão daquele meu pequeno presente à sofreguidão daqueles rastros insensatos. Eles parecem renunciar ao momento! Mal digeriram o passado e já nem mastigam o futuro. Dispersos!

Enquanto isso, eu vi. Alienei-me por opção.

E não há meio termo para o porvir. A sincronia perfeita dos acontecimentos é reveladora. Eu poderia estar olhando para a direita e não para a esquerda; ou até mesmo amarrando os sapatos, com minha vista entornada para baixo. Mas não.

Quando passou por mim, logo senti. Não poderia haver outro momento. Isenta ao vai e vem interminável de pessoas pelo salão; imune entre a esquizofrenia incessante desses átomos civilizados. Pude percebê-la na frequência mais baixa.

A inspiração não foge. Muito pelo contrário. A inspiração está entre nós. Infiltrada em nossos caminhos, camuflada em nossa cegueira, despercebida em nossa insensibilidade. Ela caminha segura de si e, pior, só se entrega para quem olha em seus olhos.

E, então, parado, pude ver. A própria bondade de alguns instantes. Vi o amor caminhando nas mãos dadas de desconhecidos amantes, vi pais e filhos indo a uma mesma direção e vi pessoas que, por instantes paravam, e logo seguiam. Vi a própria vida – plural, indiferente e contínua.

Quando parado, percebi que a vida só precisa mesmo é de atenção. O que muitos acham que são por acaso, tantos outros acham que são o destino. Se me perguntam o que acho, para ambos sorrio.

 (Marcelo Penteado)


10 respostas para “Enquanto todos passavam”

  1. Queria comentar esse texto seu mas como eu fiz um coment para Márcia Moraes não foi possível fazer meu coment no próprio corpo do seu texto.

    Sabe, Marcelo, adoro sentar-me em bancos dos shopings ou das praças quando lotadas de gente e ficar só observando as pessoas que passam. E é quando a vida se me mostra mais ela mesma.

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  2. As situações… cotidianas vivências… transformam-se em inacreditáveis textos, recheados de contextos, quando não “perdemos” tempo e nos encantamos com a vida. É isso:

    O tempo

    A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
    Quando se vê, já são seis horas!
    Quando de vê, já é sexta-feira!
    Quando se vê, já é natal…
    Quando se vê, já terminou o ano…
    Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
    Quando se vê passaram 50 anos!
    Agora é tarde demais para ser reprovado…
    Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
    Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
    Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
    E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
    Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
    A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
    Mario Quintana

    abraços

    Márcia Moraes

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      • Desculpe! Todas as professoras são chatas? Falam muito! Esta ferramenta é para falar pouco?!Então, concordo com você, Sérgia: sou muito chata, exageradamente chatíssima!! Chatas, com certeza, são as minhas palavras, pois não quero crer que “chatas” sejam as palavras desse imortal autor – Mario Quintana. Desculpe por chatear sua tão alegre existência!!
        Márcia Moraes

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