Chove de manhã. O céu também pode ficar nublado. Se até o tempo varia, como nós não haveríamos de mudar? O pássaro que antes cantava, agora dorme. O outro voou.
O dia mal começou e já estou acordado, tão diferente e disperso de horas atrás. A noite passou e o sono também. O que não passa?
E assim a vida segue; passam-se oportunidades, momentos e fica para trás o que não é escolhido. Mas do que importa? A vida segue.
Festejos se vão, sorrisos se perdem, sentimentos enfraquecem – só é eterno o que é diário. O tempo só teme a constância.
O que ouvi, passou; o que eu vi, já vi; do que já vivi, passado.
Mas o tempo há de mudar, ele sempre muda.
E esta dor passa. O calor volta e a cara muda. O presente se eterniza a cada segundo.
Pois, como não hei de amar o que faço? Como não hei de fazer o que amo?
E quando não amo, a vida também há de seguir. Com ou sem, arrependido ou não, a vida vai seguir.
E, às vezes, não sei. Às vezes não, por muitas vezes. Com o tempo não se briga, se aprende. Afinal, temos um contrato vitalício de convivência.
Sei mesmo que em cada momento há um significado a ser buscado – no sim, no não, no talvez, sempre.
Por mais que às vezes nos falte um chão ou nos sobrem asas; por mais que não tenhamos a compreensão; em meio a um sonho ou a um pesadelo a vida, simplesmente, continua.
Convicta, irredutível, ferrenha – ela segue.
Quero mais que ela siga mesmo; e, mesmo que não quisesse, ela seguiria ainda assim.
(Marcelo Penteado)