
Vou te contar o que acontece comigo quando olho para um mapa: vejo histórias sem fronteiras.
Enxergo sorrisos, revejo amigos e lembro-me de paisagens que pude tocar. Imagino como a vida anda naquela esquina ou se aquele mágico ainda está naquela fonte, brincando de encantar vidas.
Vejo países e encontro-me com pessoas em minha memória. Aquela voz; o sotaque. O calor do abraço que o tempo não apaga. O som inconfundível daquele sorriso, naquela situação. Quase me senti lá, de novo.
Olho para meu mochilão e escuto seu chamado. Sim, eu também quero passear. Também me sinto empoeirado e não aguento mais ficar murcho, neste canto de mundo. Esta parede gelada, este armário pra lá de imponente.
Um segredo? Aqui também não é meu lugar.
Aliás, antes o cansaço de uma viagem ao desconforto de uma rotina vazia.
Penso neste imenso globo azul e invejo sua constante rotação. Tenho ciúmes. Igualmente gostaria de ver o Sol de diferentes pontos. Voltar a ser regido por movimentos imprevistos: estar por aí!
Quando um vento me descobre por alguma janela, a vontade é de perguntar-lhe por onde andou. “Como vai o lado de lá?”. Saudades de um tempo em que era leve o suficiente para poder pedir uma carona.
Saudades de ter tudo o que preciso dentro de uma mochila e ainda sentir ter mais espaço para ser preenchido que qualquer casa de vastos metros quadrados. Cheio de vida, vazio de críticas. Encantadoramente entusiasmado.
Viver sob o regime do não saber: o lugar do almoço, a comida do prato, a companhia por perto.
“Que horas são mesmo?”, perguntar por perguntar. A incerteza é o maior estímulo para a vontade de se abrir. Oferecer boas vindas às infinitas possibilidades.
Ser grato de verdade. Pedir informações e agradecer de coração. Sentir-se presente, em meio ao momento único de construção da própria história.
Quando viajo por aí, não sei, teimo em me perguntar por que adiei tanto essa decisão. A vida ordinária me oferece dezenas de âncoras. Não está certo sentir-se leve apenas quando não está pesado. A leveza não é necessariamente um oposto ao peso. A leveza é um estado de elevação.
Quanto fica para trás! A verdadeira experiência tira mais que fotos. Saca, também, espaços. Reorganiza sentimentos e redesenha outros tantos contornos – externos e internos.
Quando converso com a estrada, me perco. Escuto, observo, aprendo. E, no fim, onde quer que chegue, renovo minha certeza que viajar é a melhor maneira de reinventar-se.
(Marcelo Penteado)
10 respostas para “Sobre minha conversa com o mundo”
Você é simplesmente sensacional!
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Como sempre bom, bom como sempre ! 😀
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É delicioso demais viajar nos seus textos. Grta
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quanta inspiração!!! lindo texto!
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Que texto lindo. Adorei, dá uma vontade enorme de abraçar o mundo…
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Não sei como, mas cheguei aqui. A cada linha do texto eu lembrava de alguma viagem minha.
Quando chego no final vejo que o texto é teu Marcelo, PORRA! ahahah que coincidencia ahaha
Tirou onda, texto é incrivel. Ja recomendei pra uma galera! Parabens!
Tamo junto, bjs!
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“…antes o cansaço de uma viagem ao desconforto de uma rotina vazia.” “…viajar é a melhor maneira de reinventar-se.” E voltar para casa, após uma viagem, é descobrir de novo quão gostoso é nosso cantinho. Um cantinho que, daí a algum tempo, vai nos encher de rotina e desejo de “…oferecer boas vindas às infinitas possibilidades.” Como você também amo viajar. Porque cresço, me aprendo, me entendo, me sinto parte de tudo e todos.
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Outro texto. Outra proposta. Várias propostas em meio ao mesmo texto. Viajar? Quantas possibilidades semânticas essa palavras encerra? Muitas. Creio que pode ser esta uma dais infinitas razões de apreciares tanto “viajar”… nos espaços, no tempo, na imaginação, no seu ser… sem fronteiras, sem limites, sem amarras, sem…
“Quando converso com a estrada, me perco. Escuto, observo, aprendo. E, no fim, onde quer que chegue, renovo minha certeza que viajar é a melhor maneira de reinventar-se.”
Cidadão do mundo… da própria existência…”reinventar-se”…
“De janela, o mundo até parece o meu quintal
Viajar,no fundo,é ver que é igual
O drama que mora em cada um de nós
Descobrir no longe o que já estava em nossas mãos
Minha vida brasileira é uma vida universal
É o mesmo sonho,é o mesmo amor
Traduzido para tudo o que o humano for
Olhar o mundo é conhecer
Tudo o que eu já teria de saber
Cidadão do mundo eu sou
Estrangeiro eu não vou ser “
Milton Nascimento e Fernando Brant
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Boa noite!!!
Você simplesmente descreve de forma exata os meus sentimentos quando fala sobre viagens, Amooooooooo!!!
Obrigada!
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Perfeito!
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