sigoescrevendo

Um manifesto de palavras sob a regência de cada momento.



2013-12-09 19.44.31

Na escola, premiam-se os que têm as melhores respostas. Faz parte do critério de aprovação. Nota, conceitos. Passamos a precisar de algum tipo de consentimento para sermos aprovados. E evoluir.

Com o tempo, essa semente germina e passamos a ser frutos da dependência. Do que pensam, do que é certo, do que dá resultados. “Passar de ano”, como se o tempo precisasse de tais critérios para seguir em frente.

Assim, crescemos, nos reproduzimos e morremos. Sempre esperando por um momento ou sinal de aprovação. O ambiente é medido por comparação a colegas e ensinamentos de um superior.

A ação passa a considerar, previamente, a força da reação. Uma espécie de previsão, expectativa e resultados planejados. Neste momento, o objetivo passa a ser mais valorizado que o caminho.

Daí surge o “melhor pensar duas vezes”. Ou melhor, ao invés de se refletir o que se quer, passou-se a ser importante tentar medir o impacto daquilo que se quer. O erro passou a ser o maior vilão. Logo ele, um dos grandes professores da vida.

A verdade deixou de ser o que vem de dentro e passou a ser o consenso da maioria. Mais confortável que ser verdadeiro, é ser normal.

O conforto até ganhou uma zona. Geralmente regida por uma TV e sonhos distantes. Paradinho, esperando milagres acontecerem. Só que o único milagre da vida é o tempo. Ele é eterno, nós não.

Já, isto, não aprendemos na escola.

Não nos ensinam que crescer, em tamanho, é inerente à nossa vontade. A natureza já se responsabiliza por isso. O grande desafio é que nós mesmos precisamos ser maiores que parecemos ser. E isso tem nada a ver com o corpo.

Também não nos ensinam que a reprodução vai além da família. Temos o poder de acrescentar, ao mundo, ideias. Valores, manifestos genuínos. Temos oportunidade de reproduzir a vida através de nós mesmos, para uma nova geração.

Dividir causas, multiplicar efeitos. E vice-versa.

Muito menos nos ensinam sobre a morte. A morte que acontece todos os dias, em cada momento que renunciamos às nossas vontades e buscamos aprovação. A morte de um sorriso sincero, de uma paz de espírito.

A morte da vida que poderíamos ter, caso não fosse concedido ao externo, a diretriz de tantas decisões.

(Marcelo Penteado)


4 respostas para “Da escola”

  1. Achei belo ler uma crítica de forma tão sutil e amorosa. Chico Xavier dizia: “Uma colher de verdade e um balde de amor.” é a receita ideal. Você conseguiu isso com tanta docilidade neste texto. Belas críticas e reflexões… Brennan Manning tem um livro que se chama “O impostor que vive dentro de mim” (não li inteiro mas o nome do livro já me balança tantooo). As instituições legitimadoras da nossa sociedade acabam impondo determinados padrões e eles passam a habitar de forma inconsciente nas profundezas do nosso ser. É ele, o impostor que vive dentro de mim que me impede de ser tudo aquilo que eu tenho capacidade de ser, mas que não acredito ser. Obrigada pelas palavras, eu devia frequentar mais aqui. =D

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  2. Na escola não nos ensinam sobre o senhor Tempo e sua passagem. E ele, o senhor Tempo, é o dono da razão e o algoz de nossos sonhos. Aprendemos, ou não, a usá-lo, usufruí-lo, torná-lo nosso a duras penas, depois de muitos tropeços e quedas. E daí, então, talvez só nos reste muito pouco dele.

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  3. Texto maravilhoso!! Concordo em gênero, número e grau.
    Já passei na pele tudo isso, e com a dor, muita dor, aprendi a ver, pensar e agir na vida de uma maneira diferente. E essa nova maneira tem me trazido uma felicidade verdadeira, consistente!

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  4. Que gratificante poder ler um texto, de um jovem, que nos apresenta questionamentos, tão lúcidos, quando ao que nossas escolas estão fazendo, há séculos, com nossas crianças… esquecendo de apresentá-las, com “paixão”, que… “Temos o poder de acrescentar, ao mundo, ideias. Valores, manifestos genuínos. Temos oportunidade de reproduzir a vida através de nós mesmos, para uma nova geração.”

    Como não lembrar de Rubem Alves! Mestre em Teologia, Doutor em Filosofia, psicanalista e professor emérito da Unicamp. Poeta, cronista do cotidiano, contador de histórias, um dos mais admirados e respeitados intelectuais do Brasil. Ama a simplicidade. Ama a ociosidade criativa. Ama a vida, a beleza e a poesia. Ama as coisas que dão alegria. Ama a natureza e a reverência pela vida. Ama os mistérios. Ama a educação, como fonte de esperança e transformação.

    “Na escola eu aprendi complicadas classificações botânicas, taxonomias, nomes latinos – mas esqueci. Mas nenhum professor jamais chamou a minha atenção para a beleza de uma árvore… ou para o curioso das simetrias das folhas. Parece que, naquele tempo, as escolas estavam mais preocupadas em fazer com que os alunos decorassem palavras, que com a realidade para a qual elas apontam. Aprendemos palavras para melhorar os olhos. As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem… O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Quando a gente abre os olhos, abrem-se as janelas do corpo, e o mundo aparece refletido dentro da gente. São as crianças que, sem falar, nos ensinam as razões para viver. Elas não têm saberes a transmitir. No entanto, elas sabem o essencial da vida. Quem não muda sua maneira adulta de ver e sentir e não se torna como criança, jamais será sábio.” Rubem Alves

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