
Somos bons perdedores.
Reconhecidamente gratos, aliás. Nunca saberíamos disso sem viver o que vivemos. Cada único momento. A experiência desafiadora de sair de casa. Ou mais – a libertadora sensação de sentir a casa sair de nós.
Medos, voláteis, pouco a pouco se esvaziaram. O aeroporto, a partida, a ilusão de estar só. Como é bom não saber que aquele olhar meio perdido pela janela do avião é a última versão inédita de nós mesmos. Jamais retorna o mesmo que vai.
Ao contrário do que geralmente aprendemos, chegar é, apenas, o primeiro passo. Um campo aberto de possibilidades se inicia a partir de então. É como ter a oportunidade de reconstruir parte da história de sua vida, de forma consciente. Novos círculos familiares, novos grandes amigos, novas descobertas e habilidades.
O intercambista não descarta nada.
Tudo que se vive significa um aprendizado ou experiência. Viver fora é um processo contínuo de absorção. Todas as pessoas importam, assim como qualquer caminho contribui. Além de todas as observações, não há conversa que se jogue fora.
Aprendem-se línguas, hábitos e, inclusive, novas formas de aprender. A sensação única de surpreender-se consigo. Passar a entender que você é capaz de ir além do que antes acreditava. Superar-se e ser superado. O respeito às diferenças é o ponto chave da convivência construtiva.
Perder, no entanto, é o maior dos aprendizados. Quando perdem-se barreiras, ganha-se o horizonte. Somos bons perdedores porque entendemos que a circunstância da perda é uma cláusula condicional dos momentos inesquecíveis.
O que passamos a chamar de casa, não tarda, fica para trás. Os remotos desconhecidos que se tornam melhores amigos, a distância, um dia, os separa. O intercâmbio é um período de conquistas e perdas diárias. Intensidade e esvaziamento. Liberdade e desapego.
O momento da volta é uma grande lição. Quando a sensação parece ser de deixar para trás tudo aquilo que se conquistou, voltar em paz significa entender que nada daquilo realmente te pertenceu. Pelo contrário, foi você quem se entregou à vida.
Viver uma experiência é melhor que tê-la: isso é saber perder.
(Marcelo Penteado)
6 respostas para “Papo de intercambista”
Parabéns pelo texto. Tenho 17 anos e já se passaram mais da metade do meu intercâmbio aqui nos Estados Unidos. Fiz amigos aqui que nunca esquecerei. Me arrepio e meus olhos enchem de lágrimas toda vez que leio seu texto! Só quem tá nessa pra saber o sentimento.
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Oi!
Acabei de repaginar o meu blog e te incluí no meu link de Blogs que Amo!
Sempre bom saber onde os “ciganos” desse mundo como eu, andam.
Beijos
Barbara
http://www.barbarapapa.com
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Nossa texto perfeito!! Quanta graciosidade nas descrições, lindo mesmo! Acabei de conhecer vc, Marcelo Penteado, e ja me apaixonei por seus textos! Parabéns!! Obrigada por nos dar esse imenso prazer em lê seus textos maravilhosos e ainda, nos ensinar mil coisas a cada nova linha deliciada pela leitura!!
Adorei!!
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Acho que eu não saberia descrever tão bem essas sensações.
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Muito bom!! Voltei ao meu passado de “intercambista”.
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Que maravilha! Vc voltou a publicar seus textos… voltamos a nos deleitar … prazerosa leitura…
Agora, sim, começou 2014.
Sigasescrevendo que seguiremoslendo… mundo afora…
E assim… a vida tem sempre razão…
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