
Um outono me disse que outros virão. Quanto ao tempo, tranquilizei-me.
Foi tamanha certeza que me deu segurança para seguir incerto. Perto do longe, por um pouco mais de tempo.
Caminhei por vilas, com becos guardados de silêncio e sombra. Nada que desse mais medo que estar forrado em lãs, guardado do céu. Justamente quando não tive endereço, senti a presença de casa.
Sem nuvens, por terra, pisei sensível para me guiar sem chão. Entre pegadas e memórias, optei pelo qual podia levar comigo.
Vi o verão tirar férias em outro lugar. Sempre um prazer.
Continuei e não só meu cabelo cresceu. Quanto mais calado, mais meus pensamentos me ensinaram a hora exata de falar. Logo descobri que eram raras.
Por falar em memórias, se bem me lembro, reparei mais folhas que pedras no caminho.
Levei meses para entender que a primavera estava em meus olhos.
(Marcelo Penteado)
2 respostas para “Memórias escritas, caminhos já feitos”
“Vi o verão tirar férias em outro lugar.” Mas, isso é poesia cara. E das boas!
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Que texto poético, lírico! Brincas com as palavras.
Este foi o momento em que parei: (…) “Quanto mais calado, mais meus pensamentos me ensinaram a hora exata de falar. Logo descobri que eram raras. (…) Levei meses para entender que a primavera estava em meus olhos.” Reli. Refleti. Muitas vezes. Alguns dias. Um processo “digestório”.
Ao final, emerge a tão contundente reflexão: “conhece-te a ti mesmo”. Sócrates fala de nossa relação com a vida.
As palavras de Clarice Lispector surgem, meio contraditórias; será?!
“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.”
A cada semana uma surpresa. Muito interessante!
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