sigoescrevendo

Um manifesto de palavras sob a regência de cada momento.


Preguiça Social


2014, Rio de Janeiro

De um caderno um tanto manso, inéditos escritos de um velho não tão longe assim, uma lição atemporal que nem mesmos todos séculos poderiam explicar:

 “Um vento cai melhor que uma palavra. Não me venha com essa de solidão. Vivo um momento de preguiça social. Uma espécie de necessidade involuntária de passar mais tempo comigo.

A troco de nada.

Na verdade, não tem origem em nenhum motivo que possa ser consertado por alguém. Nem ninguém. Não há qualquer ligação com mágoas ou relações arranhadas. A razão é positiva, viva, positivista!

Cercar-me de desconhecidos me impossibilita de me conhecer melhor. Conhecidos também não têm ajudado. Fazem-me perguntas que nem mesmo eu sei dizer. Aliás, são como aromas que sigo dentro de mim.

Como o calor da pele caçada, não há deserto que perdoe quem fique parado. A maior penitência da imobilidade é desinteressar os olhos. Partir para a mudança é romper com a realidade presente.

Ausentar-se, portanto.

Minha falta de instrução religiosa, por outro lado, me deixa em dúvida se preguiça social é igualmente um pecado. Ou se pecado mesmo é fazer da vida um ato sem graça. No entanto, ensina melhor meu espírito quando pede silêncio e deixa a própria verdade falar.

A distância rega a vida das relações. Traz à superfície o crescimento, permite ao tempo assinar sua obra. A preguiça, mesmo, não é de viver. É apenas da vontade de estar. Há no isolamento uma vívida intensidade, uma energia permissivamente egoísta, que só entendem os vulcões.”

 (Marcelo Penteado)


4 respostas para “Preguiça Social”

  1. é Marcelo…”Minha falta de instrução religiosa… ou se pecado mesmo é fazer da vida um ato sem graça.” “A preguiça mesmo não é de viver. É apenas da vontade de estar.”
    É guri.,.. você escreve o que penso e sinto em variados momentos… preguiça de estar… preguiça de viver nunca. E fazer desse viver um ato glorioso para mim porque, a mais das vezes, estou sozinha, nunca solitária. Sou ótima companhia para mim mesma. Pessoas me cansam por fim.

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