sigoescrevendo

Um manifesto de palavras sob a regência de cada momento.


Hoje: o dia seguinte


 
Noite e dia, pela rua
Em plena lua, não importa o sol
Vira lata, o nobre cão seguia
Seguia em frente, sempre igual.

2014, Brasil

Mostra tua força, Brasil. Ou vai dizer que, o hino que se canta na capela, merece, apenas, ouvir os campeões?

“O brasileiro gosta de campeão”, li uma vez pela internet. Contudo, como qualquer generalização é um argumento carente de bases, divirta-se cada um com o desfecho de suas interpretações.

Já está na hora, no entanto, de questionar a esperança na superação e valorizar o planejamento.  Pode ser que demore mais, que seja mais trabalhoso. Talvez, porém, a emoção de superar um desafio possa ser substituída pelo sentimento de prevê-lo, e de ter o dever cumprido.

Será que estamos falando apenas de esporte?

A cultura do resultado não pode ser uma interpretação crua em si, a qual oprime e elimina o valor da evolução. A base de qualquer progresso é a polaridade.

Voltemos à ordem: perder uma partida não significa fracasso. Não quer dizer que somos os piores ou que todo o trabalho realizado não presta para nada. Por que insistir em expor e desmerecer tanto quem tentou?

Troca-se tudo, toda hora e, no final, troca-se nada. Curioso como não saber perder é o primeiro passo na direção contrária à vitória.  A pior derrota é odiar o adversário ou sua superioridade.

Em termos técnicos, o futebol brasileiro apresentou indícios de recuperação em relação aos últimos anos. Uma reformulação se iniciou e houve um resgate por parte do relacionamento entre a torcida e a equipe. Embora sempre haja o que ser evoluído e repensado, desqualificar o trabalho com o peso do resultado é um retrocesso inigualável.

Perdemos para uma seleção melhor que a nossa. Foi um vexame, com placar atípico, é verdade. No entanto, ao final de uma competição do mais alto nível, figuramos entre os atuais quatro melhores do mundo, e isso é fantástico. Nossa história não precisa de mais drama nem vilões. É preciso encarar os fatos com coragem e assumir as responsabilidades de efetuar uma mudança independente do esforço que ela demande.

Parece pouco, campeão? Além da história e do próprio ego, existe, literalmente, um mundo inteiro que possui a mesma quantidade de dias, meses e anos que todos nós. Não existe mais o país do futebol, existe o mundo do futebol. Os padrões se criam, recriam e evoluem. É necessário ter humildade e profissionalismo para observar, escutar e aprender com outras referências.

Uma vitória requer preparação. Requer estudo, compromisso e disciplina. Envolve derrotas no caminho e confiança na continuidade. A cultura da vitória se constrói em longo prazo. Glórias viram passado porque os tempos são sempre outros. Apontar culpados sobre um fracasso instiga a construção de outro.

E de quem é a culpa? Não, não é dos alemães que se preparam e jogaram melhor que a nossa seleção. Não, não foi a Alemanha que impôs seu jogo, foi o Brasil que jogou mal. Chega: desmerecer o adversário não nos alivia nenhum mérito. Não há prepotência na vitória, muito menos na derrota. Esta é uma lição que o esporte ensina para a vida. Ou deveria.

Então, a culpa é de quem? Deve ser do técnico, dos jogadores, da CBF, da Fifa. Não convocou bem, escalou errado.  Se perdeu, então errou. Não é óbvio? Não deveria ser. Sem esquecer, claro, do colombiano que tirou o Neymar da reta final. Ah, se ele tivesse em campo. Ou do juiz que aplicou um cartão amarelo no Thiago Silva no último jogo.

Ué, mas a Copa não estava comprada?

Perdemos, algo está errado. Só pode ser. Afinal, será que é possível dar o seu melhor e, ainda assim, perder?  Pois é. Às vezes, apesar de tudo, a luta e o esforço não atingem a recompensa esperada. A expectativa pode ferir. O espírito vencedor, no entanto, reconhece que, apesar da derrota, está entre os melhores. Reconhece o adversário, sabe que fez o que dava para ser feito.

A Alemanha venceu, não foi o Brasil que perdeu. A grande derrota do brasileiro será para si mesmo, se continuar a criticar suas próprias raízes, pessoas e envolvimento, abstendo-se sob o coro da torcida do contra, como se ele mesmo  não fizesse parte da própria engrenagem que tanto se reclama.  É mais cômodo buscar culpados ao invés de soluções.

Brasil, mostre tua força ou mostre tua cara. A oportunidade que milhões cantaram, enquanto torcida, enquanto brasileiros, o que dizia? “Vai junto com você, Brasil”. Que o compromisso gritado, enaltecido para todo o mundo, não valha apenas para vitória.

É hora de evoluir, campeão.

(Marcelo Penteado)


3 respostas para “Hoje: o dia seguinte”

  1. Mostra tua força Brasil. Assim canta a música e assim deveríamos cantar todos nós todos os dias. Perdemos. E daí? No esporte perde-se e ganha-se sempre. Devemos ganhar algo, ou muito talvez, com essa derrota. Pode ser a força para seguir todos os dias vivendo, construindo, perdendo, ganhando. Bela palavras Marcelo.

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  2. Então a “culpa” é a mania de falar demais… Cantar vitória antes do tempo. Falta de concentração e seriedade. Atualmente, com a tecnologia que existe qualquer equipe consegue estudar o time adversário e se preparar para uma partida – digo tecnicamente. Existem bons jogadores? Com certeza. Mas, houve falha no preparo para a competição, para alcançar os objetivos.. Excesso de pretensão? Não sei. Mas a cada partida delineava-se o fraco perfil da nossa equipe. Será que havia esse espírito? O tal espíito de equipe… Toda lição é boa. Espero que tenham aprendido algo de bom.
    Fiquei feliz com o resultado – foi honesto: melhor impossível. Um banho de realidade.
    Humilhada sim, pelas condições da nossa saúde, educação, transporte público, impostos absurdos, gastos públicos indecentes… Enfim algo de útil aconteceu. Valemos e somos muito mais que tudo isso. Acabou e isso é ótimo.

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