De repente e, dia após dia, ele queria ser grande. A vontade de crescer, o descontentamento com a idade. O tamanho não compartia tamanhos anseios. Os desejos de ser eram maiores do que se era. Um outono por ano ainda parecia insuficiente. Queria mais, e cada vez mais rápido.
Como se o tempo não passasse o suficiente.
Queria pular o que não havia nem visto. Lembrar o que não viu ou até mesmo ser sem sequer ter sido. Queria ter sentido, sem antes sentir. Sem enquanto, nem durante, nem nunca.
Criança deixou de ser quando ainda era. Um dia, grande queria ser em pensamentos. Logo eram desejos transformados em palavras. Cresceu despercebendo a beleza em ser exatamente o que se era.
Ao olhar para o futuro, as vontades e os desejos, não o deixavam sentir os problemas que só o presente é capaz de oferecer. As brincadeiras viviam a realidade pelo ombro da fantasia. Como era bom ser gente grande, quando ainda não se se era.
Cresceu, de fato.
Ora grande, quando só, lembrou de anseios como se pensa em besteiras. Ao olhar para as paredes, fotos soltas em histórias antigas. Parte do que esqueceu-se de esquecer por inteiro.
Eram lembranças querendo atenção. Nada que o tempo não leve. Ele sempre levou.
( Marcelo Penteado )
2 respostas para “De repente”
“Eram lembranças querendo atenção. Nada que o tempo não leve. Ele sempre levou.”
“Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu
destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.”
Manoel de Barros
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Ansiedade de criança. A pressa que não cessa.
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