
Todo retorno é uma quebra de encanto.
Entre a expectativa e a memória, existe um ponto de realidade, com outras cores e outros sons. Novos ares, como uma nova dose, resistentes à renovação.
A mesma rua, por ora, é outra rua. A mesma rua, outro sou eu.
Confundimo-nos.
Ela, vaga ao egoísmo da minha lembrança; eu, pleno em sua realidade mais nua. Incompatível ao meu estar. Ao meu olhar de significação. Sinais escorridos pelo tempo, com o tempo. Para outros tempos…
Revisitar um lugar para reviver uma memória – quem nunca?
A experiência, no entanto, muda a consciência. Isso só se percebe depois. Um movimento de avanço. Percebido pelo retorno.
Retornar. Retomar.
Vive-se um esvaziamento de significado da rotina, do passado e do presente. Uma nova perspectiva precisa de espaço para crescer. De credo para existir.
Preciosa como uma semente, a mente de quem retorna. Pelo o olhar da inconsciência, porém, nenhuma viagem oferece regressos.
Como a vida e tantas outras coisas pequenas, a natureza de seu caminho é a continuidade.
(Marcelo Penteado)