Tenho dificuldade em dar títulos às coisas. Todas aquelas sem nomes, sentido definido ou função importantitória. Aquelas coisas meio sem rima, das poesias de Manoel.
Meus textos carecem de utilidade. Das incompletudes figurativas, do toque final das frases soltas, sem inícios. Invento palavras por não saber o que dizer. Jogo-as para fora de mim. Alívios, (envergonhados).
Escrevo sem meios, meio sem fim; pois, começo por falta de sentido. Escrevo porque não entendo. A natureza que só existe e não busca se explicar. A natureza de Pessoa. A natureza de Manoel. A natureza perdida que meus olhos, às vezes, se lembram de ver.
E não muitas outras vezes, escuto-vejo pássaros como as árvores desse mesmo Manoel. Aquela falta de importância na vida. E tantas suas outras coisas que merecem ser notadas por não serem, absolutamente, nada.
Olho para tantos nadas com a nostalgia de uma pedra. Um anônimo sentimento de vazio. Um azul meio cinza, sem graça como palavras no diminutivo. A respiração falseia, sem cor. Titubeia, por falta de galhos.
Também queria ser árvore, para não ligar para palavras nem significados ocos. Vigiaria o sigilo dos qualqueres, silencioso às importâncias. Estar seria minha postura de viver: sonho dos herdeiros da poesia – tornar-se, enfim, paisagem.
(Marcelo Penteado)
Uma resposta para “Ora papel, era árvore, foi semente”
“Estar seria minha postura de viver: sonho dos herdeiros da poesia – tornar-se, enfim, paisagem.”
Tornar-se, enfim, eternidade…
“Retrato do artista quando coisa
A maior riqueza do homem é sua incompletude. Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.” Manoel de Barros
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