
Talvez fosse por outro lado.
De repente, a mais concreta das realidades parece carecer de seu sentido. O dominó da insegurança deflagra seu efeito inerte à própria sorte.
Das mãos aos prantos – eis o detalhe escancarado da incerteza: a ingrata sensação que fere as bases de qualquer escolha, condenada pelo crescimento silencioso do que existe somente na possibilidade.
Basta um sim para o resto não.
Desmorona-se, frágil, o horizonte dos caminhos não percorridos. A projeção que esperava ser memória, enquanto refém além da própria inexistência.
O que é real entre a estrada, a direção ou a dúvida?
Nada, senão a certeza que antecede a decisão. O respiro mais quente que de dentro redireciona todos os sentidos. Um movimento empurrado pela própria natureza. Quando a mente titubea e o coração dispara, vem da alma a dissolução do alívio.
Há, então, um momento.
Quando o peito estufa a confiança em sua forma mais inflamável. Um espetáculo interno de clareza e convicção, ao passo que toda e qualquer dúvida contagia-se com um movimento irresistível de mudança.
Único, momento.
A brecha no sedutor balé das possibilidades. A percepção finalmente imune às ilusões de traiçoeiras realidades. A terna lembrança do momento vigente.
Escolher é assustadoramente libertador. Se por um lado aponta o futuro do presente, por outro silencia a existência de outros tantos infinitos.
(Marcelo Penteado)
Uma resposta para “O lado do não”
“Escolher é assustadoramente libertador. Se por um lado aponta o futuro do presente, por outro silencia a existência de outros tantos infinitos.” Essa parte do seu texto realmente mexeu comigo. Emocionante.
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