
Um quinto a menos. Assim, devido a simetria numérica do equilíbrio que dança. O uísque ao gelo, a orquestra ao fundo. A canção plena, os sentidos vagos. O significado sensorial, perdido no ar.
O tempo segue, independente aos lapsos. Um passo amargo, uma memória mal tragada. Cá uma tosse. Vasta manifestação do desconforto – agudo, implícito, sentido, chorado.
Outro parágrafo. Outro momento. As cortinas abrem e a luz assusta. O incômodo recepciona, até a música reagir. Urgir. Pelo toque ao novo palco. O respiro, pois, entorpecente. Os músculos, a alma. À vontade em estar.
Mais baixo, logo enquadra-se o cenário. Pela regência, que, agora. A precisão do instante desconhece o atraso. Desnuda ao acaso. Lapida-se enquanto dilacera-se, inata ao pulsar mais vivo.
Decorre-se o que se vive. Enquanto vive, enquanto vida. O eclipse entre o sentimento e a sensação. A emoção desguarnecida, por natura, plena.
Vazia ao ensaio.
Um instante de esplendor – que somente a imprudente latência das palmas confunde ao abafar.
(Marcelo Penteado)
2 respostas para “Arte”
já perdi as contas de quantas vezes li e reli seus textos… e sempre que retorno, eles se tornam mais significativos ainda. ‘siga escrevendo’, por favor. 🙂
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Que agradável me deparar com esta mensagem “perdida” no tempo. Estive longe deste blog nos últimos anos, porém sempre encontro conforto quando vejo que estes textos encontram significados através de outras vidas. Muito obrigado pelas palavras. Não sei se “seguirei escrevendo”, porém publiquei uma nova crônica depois de 6 anos: https://sigoescrevendo.com/2022/01/01/ciclos/
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