
Véspera de feriado é um fenômeno absolutamente curioso. Trata-se de uma crônica perfeita da vida real. Um retrato, dos mais fiéis, do estilo de vida contemporâneo.
A começar pela ansiedade. Ela é quase um bem – pessoal e intransferível.
Cada um tem sua maneira peculiar de manifestá-la. Alguns começam dias antes. Cultuando o recesso como se fosse o último gás de sua longa maratona. Esperam por ele. Ávidos.
Há quem tente manter a compostura, mas escancara sua apreensão entre as incontáveis olhadas para o relógio. Nem os ponteiros aguentam tanta agonia. Seguram-se ao máximo, até a metade do dia, geralmente.
A partir daí, rezam. Um silêncio sagrado, para que não surja nenhum tipo de imprevisto. Ao final, se tudo der certo, nem sorriem. Saem com pressa. Aliviados.
(Curioso como chegam ao trabalho felizes por saber que não terão que trabalhar nos próximos dias. Tão curioso quanto incoerente. O livre arbítrio parece até estar com a carteira assinada.). Era para ser só um parênteses.
No escritório ou no trânsito, a cabeça está em outro lugar.
Imaginando a viagem, o descanso ou seja lá o que for. Normal. O que menos se faz é estar focado no agora. Somos pescadores de distrações. Ou pescado por elas. Quer dizer… é tanta isca que até confunde.
De todas as formas, o feriado serve para fazer tudo aquilo que a semana não deixa. Um suspiro de tempo livre.
Geralmente, a culpa de tanta falta de tempo é do trabalho, da rotina, do calendário, de tudo… menos nossa. Acreditamos não ter escolhas, mesmo quando essas próprias escolhas ainda acreditam em nós.
Assim a cidade muda suas roupas. Põe suas perninhas de fora. Pessoas vão e vem. Velhos espaços são preenchidos por novidades. Novos ares, novas histórias. Bonito, muito bonito.
Uma pena! Que tamanho lampejo de euforia dependa de uma data.
(Marcelo Penteado)
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