Noite e dia, pela rua
Em plena lua, não importa o sol
Vira lata, o nobre cão seguia
Seguia em frente, sempre igual.

Mostra tua força, Brasil. Ou vai dizer que, o hino que se canta na capela, merece, apenas, ouvir os campeões?
“O brasileiro gosta de campeão”, li uma vez pela internet. Contudo, como qualquer generalização é um argumento carente de bases, divirta-se cada um com o desfecho de suas interpretações.
Já está na hora, no entanto, de questionar a esperança na superação e valorizar o planejamento. Pode ser que demore mais, que seja mais trabalhoso. Talvez, porém, a emoção de superar um desafio possa ser substituída pelo sentimento de prevê-lo, e de ter o dever cumprido.
Será que estamos falando apenas de esporte?
A cultura do resultado não pode ser uma interpretação crua em si, a qual oprime e elimina o valor da evolução. A base de qualquer progresso é a polaridade.
Voltemos à ordem: perder uma partida não significa fracasso. Não quer dizer que somos os piores ou que todo o trabalho realizado não presta para nada. Por que insistir em expor e desmerecer tanto quem tentou?
Troca-se tudo, toda hora e, no final, troca-se nada. Curioso como não saber perder é o primeiro passo na direção contrária à vitória. A pior derrota é odiar o adversário ou sua superioridade.
Em termos técnicos, o futebol brasileiro apresentou indícios de recuperação em relação aos últimos anos. Uma reformulação se iniciou e houve um resgate por parte do relacionamento entre a torcida e a equipe. Embora sempre haja o que ser evoluído e repensado, desqualificar o trabalho com o peso do resultado é um retrocesso inigualável.
Perdemos para uma seleção melhor que a nossa. Foi um vexame, com placar atípico, é verdade. No entanto, ao final de uma competição do mais alto nível, figuramos entre os atuais quatro melhores do mundo, e isso é fantástico. Nossa história não precisa de mais drama nem vilões. É preciso encarar os fatos com coragem e assumir as responsabilidades de efetuar uma mudança independente do esforço que ela demande.
Parece pouco, campeão? Além da história e do próprio ego, existe, literalmente, um mundo inteiro que possui a mesma quantidade de dias, meses e anos que todos nós. Não existe mais o país do futebol, existe o mundo do futebol. Os padrões se criam, recriam e evoluem. É necessário ter humildade e profissionalismo para observar, escutar e aprender com outras referências.
Uma vitória requer preparação. Requer estudo, compromisso e disciplina. Envolve derrotas no caminho e confiança na continuidade. A cultura da vitória se constrói em longo prazo. Glórias viram passado porque os tempos são sempre outros. Apontar culpados sobre um fracasso instiga a construção de outro.
E de quem é a culpa? Não, não é dos alemães que se preparam e jogaram melhor que a nossa seleção. Não, não foi a Alemanha que impôs seu jogo, foi o Brasil que jogou mal. Chega: desmerecer o adversário não nos alivia nenhum mérito. Não há prepotência na vitória, muito menos na derrota. Esta é uma lição que o esporte ensina para a vida. Ou deveria.
Então, a culpa é de quem? Deve ser do técnico, dos jogadores, da CBF, da Fifa. Não convocou bem, escalou errado. Se perdeu, então errou. Não é óbvio? Não deveria ser. Sem esquecer, claro, do colombiano que tirou o Neymar da reta final. Ah, se ele tivesse em campo. Ou do juiz que aplicou um cartão amarelo no Thiago Silva no último jogo.
Ué, mas a Copa não estava comprada?
Perdemos, algo está errado. Só pode ser. Afinal, será que é possível dar o seu melhor e, ainda assim, perder? Pois é. Às vezes, apesar de tudo, a luta e o esforço não atingem a recompensa esperada. A expectativa pode ferir. O espírito vencedor, no entanto, reconhece que, apesar da derrota, está entre os melhores. Reconhece o adversário, sabe que fez o que dava para ser feito.
A Alemanha venceu, não foi o Brasil que perdeu. A grande derrota do brasileiro será para si mesmo, se continuar a criticar suas próprias raízes, pessoas e envolvimento, abstendo-se sob o coro da torcida do contra, como se ele mesmo não fizesse parte da própria engrenagem que tanto se reclama. É mais cômodo buscar culpados ao invés de soluções.
Brasil, mostre tua força ou mostre tua cara. A oportunidade que milhões cantaram, enquanto torcida, enquanto brasileiros, o que dizia? “Vai junto com você, Brasil”. Que o compromisso gritado, enaltecido para todo o mundo, não valha apenas para vitória.
É hora de evoluir, campeão.
(Marcelo Penteado)
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