Durante muitos, muitos anos, internamente desejei ter clareza.
Parecia-me uma jornada nobre, ascendente, de evolução do meu ser.
A cada virada de ciclo, reforçava os meus votos para alcançar mais discernimento em meus pensamentos, nas minhas escolhas – sobre a direção, horizontes ou convicções.
Vejo que esta busca jogou-me em profundos confrontos nos campos da essência, onde muitos silêncios se apresentaram incontornáveis.
Almejar um patamar ideal de clareza exigiu-me um processo exaustivo de constante racionalização das coisas e do exercício de consciência sobre tudo.
Tudo. O tempo todo.
Fatos, sentimentos, percepções. Pessoas, memórias, escolhas. Nada escapava da esteira da razão e da elaboração de significado. Uma produção de multiplicidades infinitas do pensar, do refletir, e observar.
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Sete anos de muitos silêncios.
Pergunto:
seria a busca por clareza mais uma ilusão de controle?
Eu não sei.
Talvez o excesso de mente ora externalize incertezas.
mas eu não sei.
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Para novos ciclos, talvez deseje ter coragem.
Coragem para agir sem sequer saber o resto desta sentença; para confiar, apesar do não saber.
Coragem para aceitar a impermanência que há em tudo o que é vivo. E, gradativamente, abrandar este impulso artificial de dominação sobre a vida.
(Já pensou sobre isso?)
Ter coragem para aprender – e inclusive a permitir – um viver mais leve, liberto da insustentável procura por amparo em rastros de certezas.
(Será que é possível?)
Coragem para reconhecer que há, nesta natureza que nos rege, um pulsante fluxo de vida – que vai além da ambição da minha compreensão, muito menos controle.
Para então,
em conformidade, seguir..
– encorajado
ainda que
incerto de clareza.
(Marcelo Penteado)
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